Um mal-entendido!
Era sete horas de manhã quando o casal, Maria Alice, uma mulher de 53 anos e o Mário já um homem com pouco mais de idade, de 65 anos,
entraram na cozinha preparados para saírem de casa.
- Vamos embora, querido! Ontem quase não dormi, só a pensar
no gato. Temos que arranjá-lo uma casa onde ficar porque ele não pode mais
ficar naquela situação monstruosa. – Disse a Maria Alice para o Mário.
- Tens razão, mulher, mas não te apoquentes mais com isso
que hoje com certeza que arranjemos um lugar melhor para o gato ficar. –
Consolou o Mário a vestir o seu velho casaco.
Tomara que sim, meu marido! Tomara que sim! – Maria Alice
calçou as suas luvas e abriu a porta para o Mário. – Não acredito que cuidar de
gato seja assim tão difícil...
Saíram os dois e fecharam a porta. Foram preciso uns
segundos após o carro movimentar-se, para que a chávena fofoqueira salta-se da
estante onde estava para cima da mesa.
- Ouviram o que os donos disseram? Vão tirar o gato daqui de
casa! Ouviram... – Gritou a chávena
fofoqueira em pulos de alegria.
- Do que é que estas a falar chávena? – Perguntou a mesa sincera. – E vê se paras
de saltar por cima de mim, se faz favor.
- Que rabugento que estas hoje! Não ouviste o que os donos
disseram antes de saírem? Eles vão levar o gato para longe daqui. – Repetiu a
chávena.
- Ah sério? Coitado do gato que ele não merece isso.
- Coitado do gato porquê? – Perguntou a Cadeira rabugenta.
- Os donos querem livra-se do gato. – Repetiu a chávena
muito orgulhosa de si. – Fui eu que ouvi tudo.
- Oh não acredito?! Verdade? Vamos finalmente nos livrar
daquele gato pulguento, sujo e gordo? – Perguntou a cadeira sorrindo radiante.
A chávena acenou-lhe que sim. – Deus ouviu finalmente as minhas preces que isto
é música para os meus ouvidos.
- Eu não acho nada bem! – Descordou a mesa.
- Concordo com a mesa! – Exclamou a chaleira sábia que estava muito quietinha no seu canto a
ouvi-los atentamente. Olhou para todos, muito séria. – Tudo bem que aquele gato
as vezes me tira da cabeça com os seus mal tratos, mas são apenas brincadeiras
dele.
- Pois eu tenho três motivos para ver aquele gato bem longe
de mim: é sujo, pulguento e gordo. – Reclamou a Cadeira. – Aquele gato tem é
mais que sair desta casa.
Neste preciso momento entrou o gato na cozinha a
despreguiçar-se preguiçosamente, depois subiu para da cadeira.
- Posso saber que reunião é este que não fui convocado? E
porquê que pensas que iria sair desta casa, cadeira rabugenta? – Perguntou
então o gato mandão
descontraindo-se na cadeira.
- Sai de cima de mim, seu pulguento. – Refilou a cadeira em
gritos. – Não vejo a hora e o dia de me ver livre das tuas pulgas e sujidades.
- Podem explicar-me esta história?! – Pediu o gato.
- Os donos foram arranjar uma casa nova para ti. – Respondeu
então a chávena mais uma vez muito orgulhosa. – Fui eu que ouvi tudo...
- Para onde vou? Não posso sair desta casa onde cresci. Não
posso… – Repetiu gato descendo da cadeira muito preocupado. Ficou a andar volta
da cozinha murmurando muito triste.
- Viram como ele ficou? Coitado do pobre gato. – Disse a
mesa, muito baixinho para os outros.
Chaleira desceu da bancada e juntou-se aos outros.
- E se fizéssemos alguma coisa? – Sugeriu a chaleira e gato
animou-se assim que ouviu a sugestão. Parou de andar e aproximou-se deles.
- Boa sugestão, mas que poderei eu fazer para que os donos
voltem atrás com a decisão? – Perguntou o gato para todos.
- Podemos prepará-los um bom pequeno-almoço para quando
chegarem. – Concluiu a mesa muito entusiasmada e logo todos concordaram com
ela, todos, menos da cadeira.
- Ah, está bem! Eu ajudo no que precisarem, mas tens que
prometer tomar um banho para tirar todas essas sujeiras do teu corpo. – Impôs a
cadeira para o gato.
- Está bem. Vou já tomar o banho. – Gato saiu da cozinha e
foi para a casa de banho dos donos. Encheu a banheira de água quente e entrou
na água banhando-se com gel e sabão. Quando saiu do banho, sacudiu o corpo para
tirar a água do corpo.
- Opah! Estavas mesmo a precisar de um banho, amigo! –
Exclamou a escova tristonha a
olhar para a água completamente suja que ficou na banheira. Tristonha porque
sentia-se muito insolada e inútil e sempre fechada na casa de banho.
- Foi um grande sacrifício que espero valer a pena. – Gato
foi diante o espelho e abriu a boca para ver os seus dentes. Agarrou na escova
tristonha e pôs a pasta do dente por cima.
- Hei, que vais fazer comigo? Eu sou uma escova para os
humanos, não para os animais domésticos. – Protestou a escova.
Gato nem se importou com o que disse a escova e enviou a
escova na boca, escovando uma e mais vezes os seus sujos dentes.
No entanto na cozinha, estavam todos muito empinados para
surpreender os donos com uma mesa bem-posta. Já tinham quase tudo, a mesa bem
estendida com uma toalha, um vazo de flores no meio, manteiga e o queijo para
barrar no pão ou bolachas e acompanhar com o chã quentinha já a ser preparada.
- Já posso entrar na água? – Perguntou chã brincalhona ao lado muito impaciente.
- Agora já podes. – Anunciou-lhe a chaleira abrindo a tampa
de cima.
- Aqui vou euuuuuu… – Gritou então chã entrar na água quente
quase a ferver.
Com o chã quase feito, só faltava mesmo os pires para pôr as
chávenas em cima.
- E aqui estou eu e o meu primo para isso. – Disse o pires bailarino saindo da gaveta
com seu primo atrás a imitá-lo na sua dança loca em cima da mesa.
- Eles vêm aí! – Gritou o gato entrando na cozinha a toda
pressa. – Rápido que eles vem aí…
- Aos vossos lugares… – Gritou a caideira e rapidamente
todos puseram-se nos seus respetivos lugares.
Entrou então a Maria Alice e o Mário na cozinha
surpreendidos logo pela mesma posta. Estranharam!
- Quem terá feito tudo isto? – Perguntou então a Maria
Alice.
Gato aproximou-se dela, agarrou-lhe pela saia e puxou-a para
sentar-se na cadeira.
- Este gato está sempre a surpreender-me! – Exclamou o Mário
com um sorriso espantado. Trazia com ele um sexto pequenino na mão que posou
logo no chão e tirou lá de dentro um gatinho bebé. – Seja bem-vindo a tua nova
casa gatinho. De certeza que o gato cuidará bem de ti.
- Sem dúvida que está casa é perfeita para ele ficar. Ainda
bem que fomos busca-lo e trazê-lo para aqui. Ficará bem na companhia do gato. –
Acrescentou a Maria Alice muito feliz.
- Ops! – Deixou escapar a chávena, muito baixinho. – Acho
que houve aqui um grande mal-entendido…
Gato já muito furioso, assim que o gatinho bebé aproximou-se
dele assanhou para o coitadinho e afastou-se murmurando baixinho.
- Porque fui dar ouvidos há uma chávena fofoqueira?! Bela
prenda que me foram arranjar…
FIM
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